O erro Himalaya

Cometemos um erro do tamanho dos Himalayas se pensamos que ao ter uma vida religiosa ou espiritual séria e sincera, teremos um espaço mínimo que seja na atual sociedade de hipócritas e mentirosos. Os tempos de hoje é chamado Kali nos Vedas cujo significado é hipocrisia, desavenças, mentiras, enganações, inveja e tudo que é profano. Assim sendo o que pode-se esperar de tal situação? Até mesmo Jesus Cristo, Sócrates, Srila Prabhupad Saraswati Thakur foram massacrados por esta mesma sociedade. Então alguém que pratica vida espiritual sériamente deve estar preparado para agir para o seu próprio bem estar e pelo bem estar de outros sem esperar por absolutamente nenhuma recompensa afetiva vinda da parte de outros que são em sua maioria agentes de Kali. No mundo atual, pessoas honestas não tem chances na sociedade e nem desejam elas fazer parte de tamanha mentira e enganação. Todos eles sem exceção, foram mortos ou caçados, criticados ou difamados por aqueles cujo entendimento é completamente coberto pela ignorância e mesmo assim se julgam bastante sábios. Felizes serão aqueles que viverem uma vida espiritual sincera adorando o Senhor Criador de tudo e de todos com deleite e paz no coração, esperando apenas pela Graça Divina na forma de um não distante encontro com Ele naquele outro mundo transcendental. (baldev b.)

A intrísica natureza de bhakti- Bhaktivinod Thakur

A intrísica natureza de bhakti, Srila Bhaktivinod Thakur- Respeitáveis Vaishnavas, nosso único objetivo é saborerar e propagar o néctar da devoção pura (suddha-bhakti) ao Senhor Hari. Assim sendo nosso maior dever é compreender a real natureza de suddha-bhakti. Este entendimento nos beneficiará de duas maneiras. Primeiro, compreender a verdadeira natureza da devoção pura irá dissipar nossa ignorância no que diz respeito á bhakti e assim fazer com que nossas vidas humanas se tornem exitósas por saborerar o néctar derivado do nosso engajamento em bhakti na sua mais pura forma. Segundo, isto nos permitirá que sejamos protegidos das poluídas e misturadas concepções que hoje em dia recebem o nome de devoção pura. Desafortunadamente, na sociedade de hoje, em nome da devoção pura (suddha-bhakti) vários tipos de devoção misturada como karma-misra (misturada com atividade fruitiva), jnana-misra (misturada com conhecimento especulativo) e yoga-misra (misturada com vários tipos de processos de yoga), assim como várias concepções poluídas e imaginárias, estão espalhando como germes de praga por todos os lugares. As pessoas em geral consideram estas concepções poluídas e misturadas como sendo bhakti, as respeitam como tal e assim permanecem deprivadas da devoção pura. Estas poluídas e misturadas concepções são nossos maiores inimigos. Alguns dizem que não há valor algum em bhakti, que Deus é apenas um sentimento imaginário, que o homen tem meramente criado a imagem de Deus de acordo com sua imaginação e que bhakti é justo como um estado doentil de consciência que não pode nos beneficiar de forma alguma. Este tipo de pessoa, apesar de se opôr a bhakti, não pode nos causar muito dano, pois podemos facilmente reconhecê-los e evitá-los. Mas aqueles que propagam que devoção á Deus é o mais elevado caminho e ainda sim se atuam contra os princípios de suddha-bhakti e também instruem outros contra os princípios de suddha-bhakti, podem ser especialmente prejudiciais á nós. Em nome de bhakti eles nos instruem contra os princípios da vida devocional e finalmente nos guia a um caminho totalmente oposto ao da devoção á Deus. Então, com grande esforço, nossos preceptores têm definido a intrísica natureza de bhakti e tem repetidamente nos advertido a mantêrmo-nos longe destas concepções poluídas e misturadas. Eles compilaram numerosas literaturas para estebelecer a swarupa de bhakti, e dentre eles o Bhakti-rasamrta-sindhu é o mais benéfico. Para definir as características gerais na devoção pura, Srila Rupa Goswami escreveu, (1.1.11): anyabhilasita-sunyam jnana-karmady anavrtam anukulyena krsnanu silanam bhaktir uttama “O cultivo de atividades que são executadas exclusivamente para o prazer de Sri Krishna, ou em outras palavras- o fluxo contínuo do serviço á Sri Krishna, feito através de todo o esforço do corpo, mente e palavras, e através de expressões de vários sentimentos (bhavas), que não é coberto por jnana (conhecimento visando liberação impessoal) e karma (atividades visando seus frutos) e que é desprovido de todos os desejos a não ser o de dar felicidade a Sri Krishna. Isto é chamado de uttama-bhakti- serviço devocional puro.” É necessário entedermos que o Senhor Supremo na sua forma de Bhagavan é o único objeto de bhakti. Ainda que a Verdade Absoluta é uma só, Ela se manifesta em três formas; Brahman, Paramatma e Bhagavan. Aqueles que tentam perceber a Verdade Absoluta através do cultivo de conhecimento (jnana), não podem realizar nada além do Brahman (a forma impessoal de Deus). Através deste esforço espiritual eles tentam cruzar a existência material através do método de negação das qualidades do mundo material (neti-neti). Assim eles imaginam o Brahman como sendo inconcebível, imanifesto, sem forma e imutável. Mas meramente imaginar a abscência de qualidades materiais não ás garante uma maior realização da Verdade Absoluta. Eles debatem com evidência nos srutis que enfatizam a abscência de qualidades materiais no Supremo, que a Verdade Absoluta está além do alcance da mente e palavras, e que Ela não possui ouvidos, braços, pernas ou outras partes do corpo. Estes argumentos têm algum lugar nas escrituras, mas eles podem ser estabelecidos analisando a afirmação de Adwaita Acharya encontrado no Sri Chaitanya Chadrodaya Nayaka (6.67) escrito por Kavi Karnapura: Ya ya sruti jalpati nirvisesam As savidhatte savisesam Eva Vicara-yoge sati hanta tasam Prayo baliyah savisesam Eva “Em todas as afirmações dos srutis onde o aspecto impessoal da Verdade Absoluta é indicado, justo na mesma afirmação o aspecto pessoal também é indicado. Se analizarmos cuidadosamente todas as afirmações dos srutis como um todo, podemos ver que o aspecto pessoal é mais enfatizado. Por exemplo, um sruti diz que a Verdade Absoluta não possui mãos, pernas, olhos, mas entende-se que ele faz de tudo, viaja á todos os lugares e vê tudo. A compreensão pura desta afirmação é que Ele não têm braços materiais, pernas, olhos e tudo mais como as almas condicionadas têm. Sua forma é transcendental, significa que é além dos vinte e quatro elementos da natureza material, ou seja, é puramente espiritual.” (Nota- A adoração (archan) de uma forma específica e pessoal de Deus (vigraha) que é adorada pelos bhaktas neste mundo, é completamente diferente da adoração á ídolos (idolatria) executada pelos “panchopasakas” (adoradores dos cinco principais semideuses) e pelos “mayavadis” (impersonalistas). A adoração executada pelos bhakti-yoguis que possuem fé resoluta que a deidade adorada é não diferente do próprio Deus (vigrahavatara) e que sua composição é sac-cit-ananda- completamente espiritual mesmo aparecendo neste mundo através de elementos materiais (como madeira ou metal), é chamada de archan-vigraha. Tal forma adorada existe eternamente no mundo espiritual, foi vista com os olhos da devoção por sábios auto-realizados e é também descrita nos textos védicos. Por outro lado, os adoradores dos cinco semideuses e os impersonalistas simplesmente imaginam alguma forma de Deus para sua concetração ou meditação em algum objeto (visto por eles como material) visando obter o fruto de suas atividades piedosas ou liberação impessoal. Há um oceano de diferença entre a adoração de Sri Murti deliberada pelo Gaudiya Vaishnavismo e da idolatria performada pelos materialistas e impersonalistas) O significado é que quando o conhecimento espiritual é adquirido através do processo de negação, a Verdade Absoluta que é transcendental á ilusória potência (maya) é realizada apenas parcialmente. Apesar dos aderentes ao caminho de jnana-yoga serem incapazes de perceber que a Personalidade de Deus (Deus em pessoa- com forma, qualidades, atributos etc.) está além da matéria grosseira, se eles encontram um personalista, um mestre espiritual Vaishnava auto-realizado, apenas então eles podem ser protegidos do impedimento (anartha) do impersonalismo. Deve-se observar que o jnana citado acima é diretamente oposto a bhakti como foi mencionado. Porém há dois tipos de jnana; 1- conhecimento espiritual que tem como objetivo a liberação impessoal (mukti- como descrito anteriormente) e 2- conhecimento sobre a relação mútua (sambandha) entre o Senhor Supremo, a entidade viva e a energia ilusória. Este segundo tipo de conhecimento se manifesta no coração da entidade viva (alma, eu interior, real ser) através do cultivo fiel de atividades devocionais e é favorável á bhakti. Suta Goswami diz no Srimad Bhagavatam (1.2.27): Vasudeva bhagavati Bhakti-yoga prayojitah Janayatu asu vairagyam Jnanam Ca yad ahaitukam “A bhakti yoga que é executada para a satisfação do Supremo Senhor Vasudev, traz consigo o desapego de todas as coisas que não estão relacionadas com Ele e faz nascer o conhecimento puro que é livre de qualquer desejo de liberação e é direcionado exclusivamente á Ele” Aqueles que aderem ao caminho do yoga, no fim chegam apenas á realização da Superalma Onipenetrante- Paramatma. Eles não podem obtêr a realização do Senhor Supremo na sua Absoluta e última manifestação. Paramatma, Isvara, o Vishnu pessoal etc, são os objetos de pesquisa no processo de yoga. Podemos encontrar alguns poucos atributos de bhakti neste processo, mas isto não é devoção pura. Geralmente, os princípios religiosos deste mundo são todos meramente processos de yoga que buscam a realização de Paramatma. Não podemos esperar que no final todos eles finalmente nos guiem ao caminho mais elevado (bhagavat-dharma), pois existem numerosos obstáculos no caminho da meditação, antes de se realizar a Verdade Absoluta. Além disso, após praticar yoga ou meditação por algum tempo pode-se imaginar que “Eu sou Brahman” e então existe a possibilidade máxima de cair na armadilha do primeiro tipo de jnana- conhecimento impessoal. Este processo de yoga- Paramatma-darsana, realização da Superalma, apesar de ser mais elevado do que o jnana impessoal, não é perfeito. Astanga yoga, hatha yoga, karma yoga e todos os outros tipos de práticas de yoga, estão incluídos neste processo. A conclusão filosófica é que a realização da Superalma não pode ser chamada de devoção pura (suddha ou uttama bhakti). Srila jiva Goswami diz que a função do Paramatma é mais relacionada com a função da potência externa do que com a potência interna de Bhagavan. Então este aspecto da Verdade Absoluta é naturalmente inferior á Suprema e Eterna Forma do aspecto Bhagavan. Assim sendo, uttama-bhakti é apenas a devoção que é executada através do favorável engajamento em atividades que dão prazer a Sri Krishna, que não são cobertas por karma, jnana, yoga etc, e que são desprovidas de qualquer outro desejo além do de satisfazer Sri Krishna. Isto é chamado de uttama-bhakti, devoção pura. Bhakti pura é a única maneira pela qual a entidade viva pode obter êxtase transcendental. A Verdade Absoluta que é realizada (compreendida) exclusivamente através do processo de bhakti é chamada de Bhagavan. Depois da criação do universo, Bhagavan entra nele (universo) através da Sua expansão parcial como Paramatma- Superalma. Novamente, em direta distinção do manifesto mundo material, Bhavan aparece como o Brahman impessoal. Assim, Bhagavan é o aspecto original de Deus e a Verdade Absoluta Suprema. Pela prática do cantar dos Seus santos nomes a pessoa pode realizar e ver a imcomparável beleza de Bhagavan com olhos transcendentais. Os processos de jnana e yoga são incapazes de nos aproximar de Bhagavan. (Nota: Apesar de ser Um “de acordo com tattva”, Bhagavan possui diversas formas pessoais e sentimentos internos “de acordo com rasa”, dentre as quais Sua forma como Sri Krishna em doçura transcendental inigualável (madhurya) é Suprema. Este assunto será mais detalhadamente tratado no próximo capítulo.) O processo de bhakti é praticado com o único objetivo de alcançar o estágio de bhav. Este desejo (alcançar bhav) é altamente remondável ao praticante e não está incluído na palavra abhilasita (desejos contrários á devoção pura). Qualquer outro desejo a parte deste deve ser rejeitado. (Exemplo: bhukti- desejo de gratificação dos sentidos e mukti- desejo por liberação). A busca por bhukti (exploração dos objetos sensoriais, desfrute mundano) força a entidade viva a se tornar subordinada aos seis inimigos liderados pela luxúria e pela ira. Para bandonar o desejo por bukti, a entidade viva não precisa rejeitar os objetos dos sentidos e ir viver na floresta. Meramente viver em uma floresta ou aceitar a vestimenta de renunciante (sanyassi) não livrará a pessoa do desejo por bhukti. Se bhakti residir no coração do devoto, então até mesmo se ele viver em meio aos objetos dos sentidos, ele será capaz de permanecer desapegado deles e será capaz de abandonar todo o desejo por bhukti. Srila Rupa Goswami diz que no começo do processo a entidade viva aceita os objetos dos sentidos com espírito de desapego apenas de acordo com sua necessidade, e com a consciência de que eles são relacionados com Krishna. Isto é chamado de yukta-vairagya. A renúncia daqueles que desejam liberação da matéria e rejeitam os objetos dos sentidos os considerando ilusórios é chamada de phalgu-vairagya- inútil. Não é possível para uma alma condicionada abandonar completamente os objetos dos sentidos, mas por mudar a tendência exploradora para com eles e mantendo o entendimento da relação deles com Krishna, verdadeira renúncia pode ser obtida. Isto não é chamado de gratificação dos sentidos. (A maneira como a pessoa atua, de forma desapegada e com a compreensão correta da relação dos objetos com Deus, é o ponto enfatizado aqui). Devemos tentar perceber este mundo de tal maneira que tudo apareça estar relacionado com Krishna. Devemos ver todas as entidades vivas como sendo servas eternas de Krishna, os jardins e rios como sendo prazeirosos lugares para as brincadeiras de Krishna, os alimentos para serem servidos como oferenda para Seu prazer etc. Quando um devoto desenvolve tal visão do mundo externo, ele não mais vê os objetos dos sentidos como estando separado do próprio Bhagavan, por outro lado, a tendência de desfrutar da felicidade obtida da gratificação sensorial intesifica o desejo por bhukti e finalmente desvia o praticante do caminho de bhakti. Por aceitar todos os objetos deste mundo como instrumentos para serem usados no serviço a Krishna, o desejo por bhukti é completamente erradicado do coração, permitindo assim que a devoção pura se manifeste. È imperativo abandonar o desejo por bhukti e mukti. (Do livro “Bhakti tattva Viveka”)