"O BHAGAVAT- Sua Teologia, Sua ética e sua filosofia" Bhaktivinod Thakur



Introdução

   Este pequeno livro consta de uma palestra sobre o Srimad Bhagavat (Escritura Sagrada e proeminente no Vaishnavismo) concedida por Srila Thakur Bhaktivinode para uma grande congregação constituída de homens cultos e religiosos de várias culturas e nacionalidades, incluindo alguns homens ingleses. Esta palestra aconteceu no ano de 1869 na cidade de Dinajpur (Bengala Ocidental) onde o palestrante e presidente da congregação (Bhaktivinod Thakur) era um ilustre oficial do Governo da Bengala. Ele era creditado como sendo a maior autoridade capaz de explicar o verdadeiro significado do Bhagavat e defender a posição única do mesmo, filosóficamente, éticamente e teológicamente, porque em todos estes aspectos a religião  Gaudiya Vaishnava é baseada no Bhagavat assim como foi propagado por Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu. Sriman Mahaprabhu manifestou este Srimad Bhagavat como sendo uma invencível e imaculada autoridade no estabelecimento da Verdade Absoluta.
   Srila Bhaktivinod Thakur não é um homen mortal e sim o eterno companheiro e o mais amado de Sriman Krishna Chaitanya Mahaprabhu. Sriman Mahaprabhu o enviou a este plano mundano devido a Sua infinita misericórdia com o objetivo de resgatar a humanidade sofredora através da sua conduta divina e transparente. Ele é o mais inteligente expoente dos ensinamentos do Srimad Bhagavat e consequentemente suas palavras carregam uma irresistível convicção na audiência.
   Srila Bhaktivinod Thakur  foi considerado um pioneiro entre os mensageiros de Deus no domínio religioso da Bengala. Esta palestra tem sido uma benção para o público de língua inglesa pois os conduz a entrar de maneira direta e profunda nos segredos do Bhagavat, sem que haja necessidade de aprender o sanscrito e ler os 18.000 versos do Srimad Bhagavat. O Bhagavat explica sobre a eterna religião e permanece único e Supremo como o grande evangelho da igreja Universal e ao mesmo tempo supre o fruto nectáreo da magnificente árvore dos Vedas e do Vedanta para as proeminentes almas afortunadas. Aqueles que são devotados, que possuem uma atenção cuidadosa e um entendimento claro, vão certamente se beneficiar do estudo desta palestra.
   Esta palestra foi primeiramente publicada no século passado. Depois foi novamente impressa em 1936 pelo ilustre sucessor de Srila Bhaktivinod Thakur- Sua Divina Graça Paramahamsa Sri Srimad Bhaktissidhanta Saraswati Goswami Prabhupad, o fundador presidente da grande Missão Gaudiya que propagou os ensinamentos de Srila Thakur. Anos se passaram e sentimos a necessidade de republicar esta rara literatura devocional de utilidade pública.

Calcutta, 7 de junho, 1959                Jagaduddharan Dasadhikary Bhaktibandhab




Na introdução para o seu livro (Krishna Samhita) Thakur Bhaktivinod escreveu o seguinte:

   “Os princípios religiosos ditados por Maomé e Jesus Cristo são similares aos princípios religiosos ditados pelas seitas Vaishnavas. Esta é uma consideração científica das verdades sobre os princípios religiosos. Aqueles que consideram seus próprios princípios religiosos como verdadeira religião e considera que outros princípios religiosos são ireligião ou sub-religião, são incapazes de descobrir a verdade devido ao fato de estarem influenciados pelo preconceito. Na verdade, os princípios religiosos seguidos pelas pessoas em geral difere apenas devido ás diferentes qualificações dos praticantes, porém os princípios religiosos constitucionais de todas as entidades vivas é apenas um. Para as pessoas que são como cisnes, não é apropriado rejeitar os princípios religiosos seguidos pelas pessoas em geral em acordância com sua respectiva situação. Então, com o devido respeito aos princípios religiosos seguidos pelas pessoas em geral, vamos agora discutir os princípios religiosos constitucionais das entidades vivas”.

   “Diferenças que aparecem de acordo com lugares, tempos, línguas, comportamentos, comidas, vestimentas e naturezas de várias comunidades, são incorporadas nas práticas espirituais das pessoas e gradualmente faz com que uma comunidade seja tão completamente diferente da outra que até mesmo a consideração de que todos são seres humanos pode deixar de existir. Devido a estas diferenças há descordâncias, fim do intercâmbio social e brigas até mesmo ao ponto de um matar o outro. Quando a mentalidade de asno se torna proeminente entre os neófitos, eles certamente criam estas coisas. Se os devotos intermediários que possuem mentalidade de cisne tem o desejo de alcançar um nível superior, eles respeitarão as outras práticas e questionarão sobre tópicos elevados.
   Na verdade, contradições aparecem apenas devido a mentalidade de asno. As pessoas que são como cisnes consideram a necessidade de diferentes práticas de acordo com a qualificação de cada um. Assim eles são naturalmente desapegados de brigas sectárias. Se os neófitos e os devotos intermediários se tornassem completamente indiferentes em relação ás contradições encontradas nas diferentes práticas e tentassem avançar mais e mais, eles se tornariam pessoas com mentalidade de cisne (O cisne consegue extrair apenas leite mesmo que este já esteja misturado com a água). Então estes são nossos respeitáveis e queridos amigos. Mesmo que eles aceitem uma particular prática de acordo com as instruções que receberam desde o nascimento ou infância, ainda sim eles sempre permanecerão indiferentes e não-sectários.”

Então, as escrituras sagradas nos dizem que Deus é Um sem que haja outro(s). Não é pelo fato de Deus ser chamado por diferentes nomes (Deus, Alá, Jeová, Vishnu, Krishna etc...) de acordo com as Suas específicas qualidades e a língua regional, que Ele se torna mais de um. Em uma conferência inter-religiosa em Israel no ano de 2006, o Rabino chefe do estado disse: “Sabemos que os verdadeiros Hindus adoram um só Deus e não vários como muitos pensam. Assim como nós, eles são monoteístas e todos nós adoramos este mesmo Deus. Compreender este fato é de extrema importância para que a paz reine entre os povos”.

  
Dedicando ao meu Santo Mestre Espiritual- Sri Srimad Bhaktivedanta Narayan Goswami Maharaj,


Baladev Das Brahmachari

Sumangala Gaura Janmotsava - Belo Horizonte, 16/03/2014                                                                                                          


Início


  Amamos ler um livro que nunca havíamos lido antes. Ficamos ansiosos em obter qualquer informação nele contida. E com tal obtenção feita, nossa curiosidade cessa. Este espírito de estudo prevalece entre um grande número de leitores que são grandes homens em sua própria apreciação, bem como daqueles que lhes são semelhantes. De fato, as maiorias dos leitores são meros repositórios de fatos ou afirmações feitas por outras pessoas. Mas isto não é estudo. O estudante deve ler os fatos visando criar e não com o objetivo de retenção infrutífera. Os estudantes, como satélites, devem refletir qualquer luz que tenham recebido dos autores, e não aprisionar os fatos e pensamentos assim como os magistrados aprisiona os criminosos na cadeia!
O pensamento é progressivo. O pensamento do autor deve progredir no pensamento do leitor na forma de correção ou desenvolvimento. O melhor crítico é aquele que pode mostrar o desenvolvimento subseqüente de um velho pensamento, mas o mero denunciador é inimigo do progresso e conseqüentemente da natureza. “Comece de novo” diz o crítico, porque este material antigo não responde no presente. Deixe que o velho autor seja cremado, pois seu tempo já passou. Estas são as expressões superficiais. Progresso certamente é a lei da natureza e com certeza deve haver correções e desenvolvimento no decorrer do tempo. Mas progresso também significa ir adiante ou elevar-se cada vez mais.
   Agora, se seguimos nosso crítico tolo, seremos obrigados a voltar ao nosso antigo terminal e começar uma nova corrida e depois que corrermos a metade do caminho, outro crítico do seu celeiro lamentará: “Comece de novo, porque pegamos a estrada errada!” Assim nosso estúpido crítico nunca nos permitirá ir adiante por todo o caminho e ver o que há no próximo terminal. Assim pois, o crítico superficial e o leitor infrutífero são dois grandes inimigos do progresso. Devemos nos esquivar deles.                                                                                                                             O verdadeiro e bom crítico por outro lado, aconselha-nos a manter aquilo que já obtivemos e ajustar o ângulo da nossa marcha a partir do ponto de onde chegamos. Ele nunca nos aconselhará a voltar ao ponto de onde começamos uma vez que neste caso haveria uma perda infrutífera do nosso precioso tempo e trabalho. Ele orientará o ajuste do ângulo da nossa marcha a partir do ponto onde estamos. Esta também é a característica do estudante útil. Ele lerá um velho autor e encontrará sua posição exata no progresso do pensamento. Ele nunca nos aconselhará a queimar um livro sob alegação de que possui pensamentos inúteis. Nenhum pensamento é inútil. Os pensamentos são meios pelos quais alcançamos nossos objetivos. O leitor que denuncia um mal pensamento não sabe que até mesmo uma má estrada é capaz de melhorar e desembocar em uma boa. Um pensamento é uma estrada que leva a outra. Assim, o leitor observará que um pensamento que está em pauta hoje, será o meio de um objeto subseqüente amanhã. Os pensamentos necessariamente continuarão a ser uma interminável série de meios e objetos no progresso da humanidade. Os grandes reformadores sempre afirmaram que vieram não para destruir a antiga lei, mas para cumpri-la. Valmiki, Vyasa, Platão, Jesus Cristo, Maomé, Confúcio e Chaitanya Mahaprabhu afirmam este fato expressamente ou por suas próprias condutas.

   O Bhagavat assim como todas as obras religiosas e escritos filosóficos dos grandes homens tem sofrido a imprudente conduta dos leitores inúteis e dos críticos estúpidos. O Bhagavat tem sofrido com estas críticas superficiais, tanto na Índia quanto no ocidente. Nós mesmos somos testemunha deste fato. Quando estávamos no colégio lendo os trabalhos filosóficos ocidentais e trocando idéias com os pensadores daquele tempo, nós começamos a ter ódio do Bhagavat. A grande obra literária nos parecia um repositório de idéias dificilmente adaptável para o século 19 e odiávamos escutar qualquer opinião a seu favor. Para nós, um volume de Channing, Parker, Emerson ou Newmen tinha muito mais importância do que todos os milhares de livros Vaishnavas. Estudávamos com entusiasmo a Santa Bíblia e os escritos de Tattva-Bodhini Sabha, que continha partes dos Upanisads e do Vedanta, mas nenhum livro Vaishnava despertava nosso interesse. Mas quando avançamos em idade e nosso sentimento religioso se desenvolveu, nós nos juntamos de maneira unitária em nossas crenças e oramos assim como Jesus orou no jardim. Acidentalmente (ou conseqüentemente) nos deparamos com os escritos do Grande Chaitanya-dev e lendo isto com atenção para saber qual era a histórica posição daquele poderoso gênio de Nadiya, tivemos a oportunidade de estudar seus comentários do Bhagavat que foi dado aos Vedantistas da escola de Benares. O acidental estudo despertou nosso amor por todos os escritos que podíamos encontrar sobre o nosso Salvador oriental. Os comentários que encontramos do Bhagavat eram de um caráter tão charmoso que procuramos uma cópia completa Dele e então o estudamos completamente com a assistência dos famosos comentários de Sridhar Swami. Foi deste estudo que extraímos o entendimento da real doutrina dos Vaishnavas. Oh! Como foi custoso nos desvencilhar dos empecilhos acumulados naqueles anos infrutíferos!
   Até onde podemos entender, nenhum inimigo do Vaishnavismo encontrará qualquer beleza no Bhagavat. O verdadeiro crítico é um julgador generoso, desprovido de pensamentos prejudiciais e espírito partidário. Alguém que é um fervoroso seguidor de Maomé, vai certamente pensar que as doutrinas do novo testamento são uma farsa concedida pelo anjo caído. Um Cristão trinitário por outro lado denunciará os ensinamentos de Maomé como provindo de um reformador ambicioso. A simples razão disto é que o crítico deve ter a mesma disposição mental do autor cujo mérito é requisitado para julgar. Pensamentos possuem diferentes caminhos. Uma pessoa que é treinada nos pensamentos da Sociedade Unitária ou do Vedanta da escola de Benares, vai muito raramente encontrar piedade na fé dos Vaishnavas. Um Vaishnava ignorante por outro lado, cujo negócio é apenas mendigar de porta em porta em nome de Nityananda, não encontrará nenhuma piedade em um Cristão. Isto acontece porque o Vaishnava não pensa da maneira que o Cristão pensa em sua própria religião. Pode ser que o Cristão e o Vaishnava pronunciarão o mesmo sentimento, mas eles nunca cessarão suas brigas um com o outro apenas porque eles chegaram a suas conclusões através de diferentes linhas de pensamentos. Assim uma grande porção de ingenerosidade entra nos argumentos dos piedosos Cristãos quando estabelecem suas imperfeitas opiniões sobre a religião dos Vaishnavas. Qual exemplo poderia ser melhor do que o fato de que o grande filósofo de Benares não encontra nenhuma verdade na universal irmandade do homem e na comum paternidade de Deus? O filósofo, seguindo sua própria forma de pensar nunca poderá ver a beleza da fé Cristã. A maneira que Jesus Cristo pensou em seu próprio Pai era amor absoluto e enquanto o filósofo não adotar esta maneira de pensar ele será sempre deprivado da fé absoluta pregada pelo Salvador do Ocidente. De forma similar, um Cristão precisa adotar a maneira de pensar na qual o Vedantista se baseia antes que ele possa amar as conclusões do filósofo. O crítico deve então ter uma compreensiva, boa, generosa, imparcial e simpática alma.
   “Que tipo de coisa é essa ‘O Bhagavat’?”, pergunta o cavalheiro europeu que recentemente chegou à Índia. Seu amigo lhe diz com um olhar sereno que o Bhagavat é um livro, o qual seu amigo de Orissa recita diariamente à noite para alguns ouvintes. Isto é composto de gírias não-inteligentes e uma literatura primitiva daqueles homens que pintam seus narizes com um pouco de barro ou sândalo e colocam colares de contas ao redor do pescoço procurando salvação para si mesmo. Um outro amigo que viajou um pouco pelo interior, iria imediatamente contradizê-lo e diria que o Bhagavat é uma obra escrita em Sânscrito que é clamada por uma classe de homens- os Goswamis, que outorgam mantras ao povo comum da Bengala assim como o papa faz na Itália, e perdoa seus pecados sob o pagamento em forma de ouro para manter suas despesas sociais. Um terceiro cavalheiro repetirá uma terceira explicação. Um jovem Bengali educado nos pensamentos e idéias inglesas e completamente ignorante sobre a história Pré-Muçulmana do seu próprio país, irá adicionar uma outra explicação dizendo que o Bhagavat é um livro composto pela história da vida de Krishna, que era um homem imoral e ambicioso! Isto é tudo que ele pôde aprender da sua avó nos tempos em que ainda não ia á escola! Assim, o grandioso Bhagavat permanece sempre desconhecido dos estrangeiros assim como o elefante cego de seis anos que firmemente agarra várias partes do corpo da sua presa. Porém a Verdade é eterna e nunca pode ser manchada, a não ser por enquanto, pela ignorância.


O que o Bhagavat realmente é?


   O próprio Bhagavat nos diz o que ele é:

“O Bhagavat é o fruto da árvore do pensamento (Vedas) misturado com o néctar das palavras de Shukadev. Ele é o templo do amor espiritual! Ó homem piedoso! Tome profundamente este néctar do Bhagavat repetidamente até que você seja resgatado deste plano mortal.”

   O Garuda Purana e o Bhagavat dizem novamente:

“O Bhagavat é composto de 18.000 versos. Ele contém a melhor parte dos Vedas e do Vedanta. Qualquer um que saboreou este doce néctar, nunca mais desejará ler qualquer outro livro religioso.”

   Todo leitor pensativo certamente repetirá este elogio. O Bhagavat é o livro proeminente na Índia. Uma vez que você adentra Nele, será transportado como se fosse ao mundo espiritual onde a matéria grosseira não possui existência. O verdadeiro seguidor do Bhagavat é um homem espiritual que já cortou sua temporária conexão com a natureza fenomenal e fez de si mesmo um habitante daquela região onde Deus existe eternamente e ama. Este poderoso trabalho (Bhagavat) tem como sua fundação a inspiração, sua super-estrutura e a reflexão. Para o leitor comum ele não tem nenhum charme e é cheio de dificuldades. Somos então obrigados a estudar ele profundamente mediante a assistência dos grandes comentadores como Sridhar Swami e o Divino Chaitanya assim como seus contemporâneos seguidores.


O que o Grande Pregador de Nadiya diz sobre a fundação do Bhagavat?
   Agora, o Grande Pregador de Nadiya, que tem sido definido por seus talentosos seguidores, nos diz que o Bhagavat é fundado sob os quatro versos que Vyasa recebeu de Narada- o mais erudito dos seres criados. Ele diz ainda que Brahma meditou sobre todo o universo da matéria por anos e anos procurando a causa final do mundo, mas quando ele falhou em entender isto, ele olhou para a construção da sua própria natureza espiritual e ali ele escutou o Espírito Universal falando para ele as seguintes palavras:

“Tome, Ó Brahma! Estou lhe dando o conhecimento do meu próprio ser, da minha relação e fases, assuntos que são de difícil acesso. Você é um ser criado, então não é fácil para você aceitar o que eu lhe dei, porém eu lhe dou o poder de aceitar e assim você tem a liberdade de compreender a minha essência, minhas idéias, minha forma, minha propriedade e minha ação, juntamente com minhas várias relações com o conhecimento imperfeito. Eu sempre existi desde antes que todas as coisas espirituais e materiais foram criadas, e depois de criadas eu continuo nelas na forma da sua existência e veracidade, e quando elas se forem eu continuarei completo como Eu era e como Eu sou. Tudo que parece ser real mas que de fato não é, e tudo que apesar de ser real não é percebido, são mágicas da minha energia ilusória da criação, tais como; a luz e a escuridão do mundo material.”




Como explicar e compreender o Bhagavat


   Quando o grande Vyasa efetuou os arranjos dos Vedas e dos Upanisads, completou os 18 Puranas composto de fatos reunidos das recordadas e não recordadas tradições das eras, compôs o Vedanta e o imenso Maha Bharata- um épico poema de grande celebridade, ele começou a meditar sobre suas próprias teorias e preceitos e chegou à conclusão que até aquele momento ele não havia apresentado a verdadeira verdade. Ele se voltou ao seu próprio ser e procurou sua própria natureza espiritual e foi então que a verdade foi comunicada a ele para seu próprio bem e para o bem de todo o mundo.
   Imediatamente o santo percebeu que suas obras anteriores necessitavam sobreposição, pois elas não continham a verdade por inteiro e sim uma obscuridade da verdade. Nesta nova idéia ele conseguiu o desenvolvimento da sua antiga idéia de religião. Por este fato, esperamos que nossos leitores percebam a posição que o Bhagavat deleita na biblioteca dos trabalhos de Teologia Hindu.

As três grandes verdades da religião absoluta

   De acordo com o nosso Grande Chaitanya, esta incomparável obra nos ensina as três grandes verdades que compõem a religião absoluta do homem. Nosso pregador de Nadiya as classificou como: 1- Sambandha (a relação entre o criador e o criado), 2- Abidheya (o dever do homem para com Deus) e 3- Prayojan (o objetivo da humanidade). Estes três termos sumarizam todo o oceano de conhecimento humano que tem sido explorado até os dias de hoje do progresso da humanidade.


1-           Sambandha


   O primeiro ponto cardial estabelece o conhecimento da relação existente entre o Criador e Sua Criação, que não é percebida pelas almas condicionadas (entidade viva ainda presa á matéria), pois elas estão sob o controle de maya, a envolvente energia do Criador.
   Em todos os doze cantos e suas divisões, o Bhagavat nos ensina que há apenas um Deus, sem que haja um segundo. Ele é completo em si mesmo e sempre permanecerá o mesmo. Tempo e espaço, que prescrevem condições aos objetos criados, estão muito abaixo da Sua Natureza Espiritual Suprema que é não condicionada e absoluta. Objetos criados são sujeitos á influência do tempo e espaço que formam os ingredientes chefes daquele princípio na criação que é conhecida pelo nome maya. Esta energia ilusória- maya, se coloca entre nós e Deus até que não nos tornamos espirituais, e apenas quando formos capazes de quebrar seus laços mesmo estando neste plano mortal, aprenderemos a comungar nossa natureza espiritual com o não-condicionado e Absoluto. Não! Maya não significa apenas uma coisa falsa, mas também significa o cancelamento de todas as Verdades. A criação não é ilusória (maya), porém está sujeita á este princípio. O Bhagavat ensina que tudo que nós saudavelmente percebemos é verdadeiro, porém esta aparição material é transitória e ilusória. O escândalo da teoria de Shankara consiste da tendência de tentar provar que a natureza é falsa, mas a teoria explicada no Bhagavat diz que a natureza é real, porém não eternamente real como Deus e Seus propósitos. Qual problema pode surgir se o homem acredita que a natureza é espiritualmente real e que as relações físicas e fases da sociedade são puramente espirituais? Não, isto não é apenas uma mudança de nome, mas uma mudança na natureza também. Natureza é eternamente espiritual, mas a intervenção de Maya faz dela algo grosseiro e material. O homem, no seu progresso religioso, persevera em descartar esta idéia grosseira como sendo infantil e tola em sua natureza e por subordinar o princípio intervencionista de Maya, vive em contínua união com Deus e sua natureza espiritual. O homem que realmente alcançou a salvação irá livremente dizer ao seu irmão: “Se você deseja ver Deus, veja-me e se você deseja ser uno com Deus, siga-me.”
   O Bhagavat nos ensina esta relação entre o homem e Deus e precisamos deste conhecimento. Esta sublime verdade é o forte onde o materialista e o idealista devem se encontrar como irmãos da mesma escola e este é o ponto para qual toda filosofia aponta.
   Isto é chamado de Sambandha Jnana do Bhagavat, ou em outras palavras, o conhecimento da relação entre o ser condicionado e o Absoluto.



2-           Abidheya

   Devemos agora explicar o segundo grande princípio inculcado pelo Bhagavat – o princípio do nosso dever para com Deus. O homem deve espiritualmente adorar seu Deus. Existem três maneiras pela qual o Criador é adorado pelo criado.
   Todos os teólogos concordam em afirmar que existe apenas um Deus e que não há um segundo, mas eles discordam ao dar um nome comum a este Deus devido aos diferentes métodos de adoração que eles adotam de acordo com a constituição das suas respectivas mentes. Alguns O chamam de Brahma, outros de Paramatma e outros de Bhagavan. (Outros de Allah, Jeová etc...)
   Aqueles que adoram Deus como o Infinitamente Grande através do princípio da admiração, o chamam de Brahma. Esta forma de adoração é chamada de jnana- conhecimento.
   Aqueles que adoram Deus como sendo a Alma Universal através do princípio de união espiritual com ele o chamam de Paramatma. Isto é Yoga.
   Aqueles que adoram Deus como sendo Todo em Tudo, com todo seu coração, corpo e firmeza, o chamam de Bhagavan. Este último princípio é conhecido como Bhakti (Devoção).
   O livro que prescreve a relação e adoração á Bhagavan, procura por ele mesmo pelo nome de Bhagavat e o adorador é também chamado pelo mesmo nome. Assim é o Bhagavat, decididamente o livro pata todas as classes de teístas. Se adoramos Deus espiritualmente como o Todo em Tudo - o Completo, com o nosso coração, mente e energia, nos tornamos todos Bhagavatas e vivemos uma vida espiritual a qual nem o adorador de Brahma nem o Yogi pode viver.


Superioridade do Bhagavat ao sintetizar todos os tipos de adoração teísta.


   A superioridade do Bhagavat consiste em unir todos os tipos da adoração teísta em um único excelente princípio na natureza humana, o que recebe o nome de Bhakti. Não existe uma palavra equivalente no dicionário inglês. O Bhagavat nos diz para adorar Deus neste grande e inestimável princípio; piedade, devoção, renúncia e amor espiritual puro sem qualquer tipo de pedido exceto aqueles feitos em humor de arrependimento, o qual é infinitamente superior ao conhecimento humano e ao princípio da Yoga.
   Para uma completa explicação sobre o princípio de Bhakti, teríamos que escrever um grande volume o que não é nosso objetivo aqui. É suficiente dizer que o princípio de Bhakti atravessa por cinco diferentes estágios no curso do seu desenvolvimento até chegar á sua mais elevada e pura forma. Então novamente quando isto alcança a última forma, é suscetível de um progresso avançado indo do estágio de prem (amor puro) até o estágio de mahabhav (amor puro em estágio completamente desenvolvido) que é de fato uma completa transição ao universo espiritual onde apenas Deus é o porto das nossas almas no estado mais puro.


O Bhagavat é a ilustração de Bhakti, o verdadeiro Abidheya

   O volumoso Bhagavat nada mais é do que uma completa ilustração deste princípio de contínuo desenvolvimento e progresso da alma, da matéria grosseira ao Todo Perfeito Espírito, quem é distintamente caracterizado como Transcendental, Pessoal, Eterno, Absolutamente Livre, Todo Poderoso e Todo Inteligente. Não há nada grosseiro ou material neste processo. Tudo é espiritual. Com a intenção de inculcar esta imagem espiritual no estudante que tenta aprender isto, comparações do mundo material tem sido usadas. Isto pode convencer o ignorante, o novato ou o não-praticante neste processo. Exemplos materiais são absolutamente necessários para a explicação de idéias espirituais. O Bhagavat acredita que o espírito da natureza é a verdade natural e é a única parte prática disto.
   O fenomenal aparecimento da natureza é realmente teórico, mesmo que tenha feito uma grande impressão na nossa crença desde os dias da nossa infância. O aparecimento externo da natureza nada mais é do que um claro índice da sua fase espiritual. Comparações são, portanto, necessárias. A natureza como ela é perante nossos olhos devem explicar o espírito, do contrário a verdade permanecerá sempre cancelada e o homem nunca sairá da sua criancice ainda que seu bigode e barba cresçam brancos como a neve dos Himalayas. Toda filosofia intelectual e moral é explicada pela própria matéria. Emerson maravilhosamente mostra como todas as palavras na filosofia moral originalmente vieram dos nomes dos objetos materiais. As palavras; coração, cabeça, espírito, pensamento, coragem, bravura etc... foram originalmente nomes de algum objeto correspondente no mundo material.
   Todas as idéias espirituais são similarmente figuras do mundo material, porque a matéria é o dicionário do espírito, e figuras materiais são nada mais que sombras dos afazeres espirituais, os quais nossos olhos materiais carregam de volta para nossa percepção espiritual. Deus na sua infinita bondade tem estabelecido esta infalível conexão entre a verdade e sua sombra para termos uma impressão da verdade. Não é nossa intenção entrar em detalhes sobre isto, então não poderemos citar algumas ilustrações nesta breve leitura.



Cultivo dos modos de Bhakti

   Todas as maneiras pela qual o homem pode se treinar até chegar ao estágio de prema-bhakti, como explicado acima, foi descrito em detalhes. Primeiramente somos avisados a nos converter no mais grato servo de Deus. Nossa natureza foi descrita como estando conectada á três diferentes fases em todos os nossos afazeres neste mundo. Estas fases são chamadas; sattva, raja e tama. Sattva-guna é a propriedade na nossa natureza que é puramente boa desde que ela pode se manter pura em nosso presente estado. Raja-guna não é bom nem ruim. Tama é ruim. Nossas tendências e afeições são descritas como as principais fontes de toda nossa ação e este é o objetivo da nossa vida e conduta, bem como o treinamento destas afeições e tendências até  elevar-nos ao estágio de sattva-guna como foi prescrito pelo princípio moral. 


Porém os estágios preliminares devem ser primeiramente observados


   Porém isto não é tão fácil. Todas as nossas ações devem ser cuidadosamente protegidas de tama-guna- o princípio do mal, por primeiramente adotar raja-guna, e quando isto é efetuado, a pessoa deve subjugar seu raja-guna através do natural sattva-guna que é o mais poderoso de todos os três modos. Luxúria, preguiça, ações imorais e degradação da natureza humana através de uso de intoxicantes (drogas em geral), são descritas como tama-guna- o maldoso modo da natureza. Isto deve ser obstruído pelo: casamento, trabalho útil, abstinência de intoxicantes e deixar de causar problemas aos nossos vizinhos e animais inferiores.
   Quando então raja-guna se sobressai no coração, é nosso dever converter este raja-guna em sattva-guna- que é proeminente boa. Aquele amor conjugal que foi primeiramente cultivado deve agora ser sublimado em amor espiritual sagrado- amor entre a alma e outra alma. Trabalho útil irá agora ser convertido em trabalho de amor e não de desgosto e obrigação.  Abstinência do trabalho ruim perderá sua negatividade e converterá em trabalho bom e positivo. Então devemos olhar para todas as entidades vivas na mesma luz que olhamos para nós mesmos. Devemos converter nosso egoísmo em atividades desinteressadas para com tudo que nos cerca. Amor, caridade, fazer coisas boas e devoção á Deus será nosso único trabalho. Vamos então nos tornar servos de Deus por obedecer A Seus elevados e santos desejos.


Então Bhakti começa

   Aqui começamos a ser Bhaktas (devotos) e somos suscetíveis de avanço adicional na nossa natureza espiritual como foi descrito anteriormente. Tudo isto recebe o nome de abidheya, o segundo ponto cardeal na obra religiosa suprema – O Bhagavat.
   Temos agora diante de nós os primeiros dois pontos cardiais da nossa religião, de alguma maneira explicada em termos e pensamentos expressados pelo nosso Salvador, que viveu apenas quatro séculos atrás na linda vila de Nadiya, situada ás margens do Bhagirathi. Devemos agora seguir até o último ponto cardeal nomeado por este Grande Reformador Sri Chaitanya-dev como Prayojana- objetivo.
   
  
Prayojana- Garantia do auspicioso futuro da humanidade

   Qual é o objetivo do nosso progresso espiritual, nossa oração, nossa devoção e nossa união com Deus? O Bhagavat nos diz que o objetivo não é desfrute ou lamentação e sim progresso contínuo até perfeitamente obter santidade espiritual e simetria ou harmonia interna (na alma) e externa (no ambiente) em perfeito êxtase. Nos livros comuns da religião Hindú onde raja e tama-guna foram descritos como caminhos da religião, encontramos descrições de um céu e um inferno! O céu sendo mais bonito do que qualquer outra coisa e o inferno mais tenebroso do que qualquer figura assombrosa. Além disto, temos vários outros lugares onde boas almas são enviadas no seu caminho de promoção. Existem 84 divisões no inferno, alguns mais tenebrosos do que o que Milton descreveu no seu Paraíso Perdido. Estes são certamente poéticos e foram originalmente criados pelos legisladores do país visando parar com as más ações do povo ignorante que não é capaz de compreender as conclusões da filosofia.


O Bhagavat não permite imaginação poética que esteja além dos fatos espirituais

A religião do Bhagavat é livre de tal imaginação poética. Na verdade em alguns capítulos encontramos descrições destes infernos e céus, porém temos sido avisados em algumas passagens á não aceitar estes lugares como sendo fatos reais (não são eternos) e sim tratá-los como uma invenção para intimidar o homem perverso e ajudar o simples e o ignorante. O Bhagavat certamente fala de um estado de recompensa e punição no futuro de acordo com os nossos atos na nossa presente situação.
   Se todo o estoque das obras de teologia Hindú que precederam o Bhagavat fosse queimado como a Livraria de Alexandria e apenas o sagrado Bhagavat fosse preservado como ele é, nem mesmo uma parte fragmentada da filosofia dos Hindus exceto as das seitas ateístas, estaria perdida. O Bhagavat então pode ser denominado de ambos- uma obra religiosa e a essência de toda história, cultura e filosofia Hindu.
  


O Bhagavat não permite pedidos

O Bhagavat não permite que seus seguidores peçam qualquer coisa de Deus exceto amor eterno á Ele. O reino do mundo, as belezas dos céus locais e a soberania sobre o mundo material, nunca é o objetivo da oração do Vaishnava.


Vaishnavas oram por Bhakti


   O Vaishnava humildemente diz: “Pai, Mestre, Deus, Amigo e Esposo da minha alma! Santificado seja vosso nome! Eu não me aproximo de você por qualquer coisa que você já tenha me dado. Eu tenho pecado contra você e agora eu me arrependo e solicito seu perdão. Deixe que Sua Santidade toque minha alma e torne-me livre de grosserias. Deixe que meu espírito se dedique completamente e com toda humildade ao Seu Santo serviço em amor absoluto a Ti. Tenho chamado por você meu Deus. Deixe que minha alma seja inspirada em admiração pela sua grandeza! Tenho chamado você de Meu Mestre, então deixe que minha alma seja inabalavelmente devotada á seu serviço. Tenho chamado você de Amigo, então deixe que minha alma permaneça sobrecarregada em amor reverencial á Ti e não em pavor e medo! Eu tenho lhe chamado de Esposo, então deixe que minha natureza espiritual esteja em eterna união em amor á Ti para sempre sem nunca sentir qualquer desgosto. Pai, deixe-me ter força suficiente para ter Você como o consorte da minha alma, e então poderemos nos unir em amor eterno! Que a paz reine no mundo!” 


O Objetivo da busca do Vaishnava é o amor divino

   Tal é a natureza da oração do Bhagavat. Alguém que tiver o privilégio de ler este livro encontrará a mais elevada forma de oração nas expressões de Prahlad direcionadas á Universal e Onipresente Alma, com poderes de converter todas as más forças á uma súbita submissão ou á completa aniquilação. Esta oração rapidamente mostra qual é o objetivo da vida de um Vaishnava.  Ele não possui qualquer ambição de ser Rei de uma certa parte do universo em sua próxima vida após a morte, nem tampouco teme um local turbulento ou um ardente inferno- uma idéia que faria os cabelos do jovem Hamlet arrepiar justo como os espetos de um porco espinho! Sua idéia de salvação não é uma total aniquilação da sua existência pessoal como a do Budista e os 24 Deuses que os Jainistas procuram para si mesmos! Ele deseja servir Deus espiritualmente após a morte como ele serviu com ambos- matéria e espírito, nesta vida. Sua constituição é um espírito puro e seu maior objetivo na vida é obter um divino e santo amor, no presente e no futuro.


A co-existência da alma Vaishnava e da Alma Universal

   Aqui pode surgir uma dúvida filosófica. Como a alma humana pode vir a ter uma existência distinta e aparte da Alma Universal no momento em que a parte grosseira da constituição humana (o corpo) não existir mais? O Vaishnava não pode responder isto assim como qualquer outro homem na terra. Ninguém pode explicar isto satisfatoriamente. O Vaishnava humildemente responde que ele sente a verdade, mas não pode compreender o bastante para explicar isto. O Bhagavat meramente afirma que a alma do Vaishnava, quando livre da matéria grosseira, irá sempre ter existência distinta não em tempo e espaço, mas espiritualmente no eterno Reino Espiritual de Deus onde amor é vida. Ali, esperança, caridade e êxtase contínuo e progressivo, são alguns dos aspectos das suas várias manifestações.


Dois erros em conceber idéias sobre Deus

   No entendimento da verdadeira essência da Deidade, dois grandes erros nos confrontam e nos arrastam de volta á ignorância e para a satisfação dela. Uma delas é (1) a idéia de que Deus está acima de todos os atributos- material e espiritual, e está conseqüentemente acima de todas as concepções. Esta pode ser uma idéia nobre, porém inútil. Se Deus está além de qualquer concepção e não tem qualquer simpatia com o mundo, como então a criação se fez possível? Um universo composto de componentes viáveis? A distinção e fases da existência evidenciada, as diferenças de valor testemunhadas? Homem, mulher, bestas, árvores, magnetismo, magnetismo animal, eletricidade, paisagem, água e fogo, vistos distintamente? Neste caso a teoria mayavada de Shankaracharya seria uma filosofia absoluta. O outro erro é (2) pensar que Deus é Todo-atributo, ou seja; inteligência, verdade, bondade e poder. Esta também é uma idéia ridícula. Propriedades espalhadas separadamente nunca podem constituir uma entidade. Ambas as idéias são, portanto, imperfeitas.


Harmonia do Bhagavat


   A verdade como estabelecida no Bhagavat, é aquela onde apesar de que muitas propriedades naturalmente se opõem agressivamente entre si, ainda sim são unidas em uma Entidade espiritual onde elas possuem total congruência, união, simpatia e perfeita harmonia. Certamente isto está além da nossa compreensão. Isto é devido á nossa natureza de ser uma entidade finita e a natureza de Deus ser infinita. Nossas idéias são constrangidas e limitadas pela idéia de espaço e tempo, mas Deus está além de qualquer tipo de limitação ou constrangimento. Este é um vislumbre da Verdade e nós devemos considerar isto como sendo a própria Verdade. Freqüentemente Emerson diz que um vislumbre da verdade é melhor do que qualquer sistema arranjado, e ele está certo.


Deidade espiritual do Bhagavat

   O Bhagavat tem, portanto, uma Pessoa Transcendental. Todo-Inteligente, Ativo, Absolutamente Livre, Divino, Todo-Poderoso, Onisciente, Onipresente, Justo e Misericordioso. Ele é uma Deidade Supremamente Espiritual sem que haja um segundo. Ela cria e mantém tudo no universo. O maior objetivo do Vaishnava é servir Esta Entidade Infinita eternamente e espiritualmente na atividade do Amor Absoluto.


Vyasa- O Grande compilador do Bhagavat

   Estes são os principais princípios da filosofia e religião inculcada pela obra chamada O Bhagavat, e Vyasa em sua grande sabedoria, tentou seu melhor ao explicar todos estes princípios com a ajuda de imagens percebíveis no mundo material. Sem dúvida, o crítico vago irá rapidamente rejeitar este grande filósofo o chamando de adorador do homem. Ele iria até mesmo mais longe o escandalizando ao chamá-lo de professor do amor material e do prejudicial princípio do ascetismo exclusivo.
   A mente do vago crítico vai sem dúvida ser transformada se ele refletir sobre apenas um grande ponto fundamental- como é possível que um espiritualista da qualidade de Vyasa, ensinando os melhores princípios do teísmo através do Bhagavat e compondo os quatro textos citados no começo como sendo a fundação da sua poderosa obra, pôde ter criado na crença do homem a idéia de que uma relação sensual entre um homem e certas mulheres é o maior objeto de adoração? Querido crítico, isto é completamente impossível! Vyasa não poderia ter ensinado um renunciante comum a criar um lugar de adoração com um certo número de moças! Vyasa, que poderia nos ensinar repetidamente em todo o Bhagavat que o prazer sensual é tão momentâneo como os prazeres de acabar com uma coceira ao esfregar a pele com as mãos, e que o dever do homem é possuir amor espiritual por Deus, não poderia nunca ter prescrito a adoração ou até mesmo qualquer indulgência em prazeres sensuais.
   Suas descrições são sem dúvida espirituais, e você não deve relacionar matéria do mundo grosseiro com isto. Seguindo este conselho, meu querido crítico, adentre no Bhagavat e eu não duvido que em três meses você irá chorar e se arrepender para Deus por ter desprezado esta grande e nobre revelação que emanou através do coração e cérebro do Grande Badarayan (Vyas).


Os Filósofos e os reformadores sempre são mal compreendidos

   Sim, você irá nobremente nos dizer que tais comparações filosóficas deixaram feridas no ignorante e no não-pensativo. Você nobremente aponta os atos imorais de alguns renunciados pervertidos, que sem nenhuma vergonha tem a audácia de chamar a si mesmos de ‘seguidores do Bhagavat e do grande Chaitanya’. Você nobremente nos diz que um reformador como Vyasa, a menos que puramente explicado, pode em pouco tempo levar milhares de homens á um grande risco e problemas no porvir. Mas querido crítico, estude as histórias das eras e países! Onde você encontrou um filósofo ou reformador plenamente compreendido pelo povo? A religião popular é medo de Deus e não o puro amor espiritual que Platão, Vyasa, Jesus e Mahaprabhu ensinaram aos seus respectivos povos! Quer você dê a religião absoluta em figuras ou simples expressões ou as ensine por meio de livros ou palestras orais, o homem ignorante e o homem não pensativo certamente a degradarão. Na verdade é muito fácil dizer e agradável ouvir, que a Verdade Absoluta tem tal afinidade com a alma humana que se revela de modo como que intuitivo, e que nenhum esforço é necessário para nos ensinar os preceitos da verdadeira religião, mas esta é uma idéia enganosa. Isso pode ser verdade no que diz respeito à ética e ao mero alfabeto da religião, mas não no que se refere à forma mais elevada de fé, a qual requer uma alma exaltada para compreendê-la. Isto certamente requer prévia educação da alma nos elementos da religião, justo como o estudante de frações deve ter um prévio aprendizado nos números elementares e figuras da Aritmética e Geometria. ‘A verdade é boa’- é uma verdade elemental, a qual é facilmente aprendida pelas pessoas comuns. Mas se você diz á um comum homem não educado que Deus é infinitamente inteligente e poderoso em Sua natureza espiritual, ele irá conceber uma idéia bastante diferente daquilo que você quis dizer com esta expressão.    


Apreciação das verdades elevadas requer prévia educação

   Todas as verdades superiores embora intuitivas requer prévia educação, começando dos princípios simples e elementares da religião. A religião mais pura é aquela que dá a idéia mais pura de Deus, e a religião Absoluta requer uma concepção absoluta do homem sobre sua própria natureza espiritual. Como então é possível que o ignorante obtenha a religião absoluta, enquanto permanece ignorante nos ensinamentos básicos e filosofia da religião? Apenas quando os pensamentos se manifestam é que o pensador não mais permanece ignorante e se torna naturalmente capaz de obter a idéia absoluta da religião. Esta é a verdade e Deus tem feito isto em Sua infinita bondade, imparcialidade e misericórdia. Trabalho tem seu salário, mas a inatividade nunca será recompensada. Quanto maior o trabalho maior a recompensa- esta é uma máxima útil da verdade. O homem não pensativo deve necessariamente ficar satisfeito com a mera superstição até que acorde e abra seus olhos para o Deus do amor.


A infinita misericórdia do reformador Sri Chaitanya ao explicar o Bhagavat

   Os reformadores, devido ao seu amor universal e compaixão ao fazer o bem á todos, sinceramente sempre se esforçam de um jeito ou de outro para fazer com que o não pensativo tome o copo da salvação; mas o outro toma isto com vinho e cai no chão entorpecido sob a influência da intoxicação, porque a imaginação também tem o poder de moldar uma coisa que na verdade nunca existiu. É neste sentido que os males de Nunneries e as corrupções do Akhras começam. Não! Não devemos minimizar e escandalizar o Salvador de Jerusalém ou o Salvador de Nadiya pelos subseqüentes males de alguns seguidores perversos. Luteros ao invés de críticos baratos é o que queremos para a correção daqueles males, através da verdadeira interpretação dos preceitos originais.


Os princípios de liberdade e progresso do Bhagavat


   Mais dois princípios caracterizam o Bhagavat- liberdade e contínuo progresso da alma por toda a eternidade. O Bhagavat nos ensina que Deus nos dá a verdade, como deu á Vyasa, quando ansiosamente buscamos por ela. A verdade é eterna e inesgotável. A alma recebe uma revelação da Verdade apenas quando está realmente ansiosa por isto. As almas dos grandes pensadores das eras passadas que agora vivem espiritualmente, freqüentemente aproximam do nosso espírito indagador e o assiste em seu apropriado e gradual desenvolvimento. Assim, Vyasa foi assistido por Narada e Brahma.


Como a Verdade muda com o tempo devido à troca de mãos

   Nossas tantas escrituras, ou em outras palavras, livros de pensamento, não contém agora tudo que podemos obter do Pai Infinito. Nenhum livro está livre de erros. A revelação de Deus é sem dúvida Verdade Absoluta, mas é escassamente recebida e preservada em sua pureza natural.
   Temos sido avisados no Capítulo 14 do Canto 11 do Bhagavat á acreditar que a Verdade quando revelada é Absoluta, mas a mesma é passível de ser imbuída com a tintura da natureza daquele que a recebe e no decorrer do tempo é completamente mudada e convertida em erro através da contínua troca de mãos de tempos em tempos. Conseqüentemente, sinceras revelações da fonte autêntica são continuamente necessárias para manter a verdade em sua pureza original.


A necessidade da liberdade

   Assim, somos advertidos a ser cuidadosos em nossos estudos de velhos autores por mais sábios que eles sejam no que diz respeito à sua reputação. Aqui, temos plena liberdade de rejeitar a idéia errônea que não é sancionada pela paz da consciência.



Experiência pessoal de Vyasa á este respeito


    Vyasa não estava satisfeito com aquilo que já havia coletado nos Vedas, dispôs nos Puranas, e compôs no Mahabharata. A paz da sua consciência não sancionava suas obras passadas. Ela lhe dizia internamente: “Não Vyasa! Você não pode descansar contente com o quadro errôneo da verdade que lhe foi necessariamente apresentado pelos sábios de tempos passados! Deves você mesmo, bater à porta do reservatório inexaurível da verdade do qual os sábios antigos retiraram sua rica inspiração. Vá! Vá até a fonte da verdade, onde nenhum peregrino encontra qualquer tipo de desapontamento”. Vyasa o fez e obteve o que desejava. Somos todos aconselhados a fazer o mesmo. A liberdade então é o princípio que devemos apreciar como sendo a mais valiosa dádiva de Deus. Não devemos permitir que sejamos liderados por aqueles que viveram e pensaram antes de nós. Devemos pensar por nós mesmos e tentar obter verdades subseqüentes que ainda não foram descobertas ou não foram adaptadas para as condições do presente. No Srimad Bhagavat (11.21.23) somos aconselhados a absorver o espírito das escrituras e não as meras palavras. O Bhagavat é a religião da liberdade, verdade descontaminada e amor absoluto.
  


A necessidade do progresso


    A outra característica é o progresso. A liberdade certamente é a mãe de todo progresso. A santa liberdade é a causa do progresso cada vez mais elevado na eterna e interminável atividade do amor. Liberdade mal usada causa degradação e o Vaishnava deve sempre usar cuidadosamente esta bela dádiva de Deus. O progresso do Bhagavat é descrito como o nascer da alma, da natureza até o Deus da natureza, de maya- a Energia Absoluta e Infinita até a Própria Pessoa Absoluta e Transcendental. Então, o Bhagavat nos diz sobre si mesmo: “Este é o fruto da árvore do pensamento, adicionado com o néctar da fala de Sukadev. Este é o templo do amor espiritual! Oh! homem de piedade! Beba profundamente este néctar do Bhagavat repetidamente até que você seja levado para bem longe deste quadro mortal!”


Nossos nobres Guias nos ajudam a compreender o Bhagavat

   O Bhagavat é sem dúvida uma obra difícil de se compreender. Por tanto, comentários são necessários para nos ajudar em nosso estudo. O melhor comentarista é Sridhar Swami e o verdadeiro intérprete é nosso grande e nobre Chaitanya-dev. Estas grandes almas não foram meras iluminárias que assim como os cometas aparecem no firmamento por um determinado tempo e desaparece assim que sua missão é cumprida.  Eles são como milhões de sóis brilhando tudo continuamente para dar luz e calor ás gerações futuras. Muito tempo ainda há de rolar até que eles sejam sucedidos por outros de sua mesma sublime mentalidade, beleza e calibre.


Nosso único guia é Vyasa- o Grande

   Os escritos de Vyasa ainda estão tocando nos ouvidos de todo teísta como se um grande espírito ainda estivesse os cantando de longe! Badrikasram! Que nome terrível! O assento de Vyasa e da seleta religião do pensamento! O peregrino nos diz que a terra é fria! Quão poderoso foi o gênio Vyasa ao gerar o calor da filosofia em tal região perpetuamente gelada e coberta de neve!  Ele não apenas esquentou o local, mas mandou este sereno raio bem longe até as margens do oceano! Assim como o grande Napoleão no mundo político, ele destruiu impérios e reinos da filosofia antiga e também contemporânea com o poderoso golpe do seu pensamento transcendental! Isto sim é poder!
   A filosofia ateísta de Shankhya, Charbak, dos Jainistas e dos Budistas, estremeceram de medo com o heróico avanço dos sentimentos espirituais e criações do filósofo do Bhagavat! O exército dos ateus era composto de criaturas grosseiras e impotentes assim como as legiões que se ergueram sob o banner da caída Lúcifer, mas os soldados puros, santos e espirituais de Vyasa, enviados pelo seu Poderoso Pai, foram invencivelmente ferozes com o inimigo e destruíram tudo que era profano e infundado.

Nossos guias seguintes são os Acharyas

   Aquele que trabalha na luz de Deus vê as mínimas coisas na criação. Aquele que empunha o poder de Deus é invencível e grande e aquele que conduz sua destinada missão com a Santidade de Deus em seu coração, não encontra dificuldades nas realizações do seu dever contra as coisas e pensamentos profanos. Deus trabalha através dos seus agentes e estes agentes são denominados pelo próprio Vyasa como as encarnações do poder de Deus. Todas as grandes almas foram encarnações desta classe e encontramos a autoridade deste fato no próprio Bhagavat:

   “Oh! Brahmanas! Deus é a alma do princípio da bondade! As encarnações deste princípio são inumeráveis. Assim como milhares de córregos fluem de uma inesgotável fonte de água, estas encarnações emanam da boa e infinita Energia de Deus, que está sempre cheia.”
   O Bhagavat então, nos permite a chamar Vyasa e Narada de Shaktiavesh Avataras da infinita Energia de Deus e o espírito deste texto apresenta-se para honrar todos os grandes reformadores e mestres que viveram e viverão neste e em outros países. O Vaishnava está pronto para honrar todos os grandes homens sem distinção de cor ou casta, porque eles estão repletos da Energia de Deus. Vedes quão universal é a religião do Bhagavat. Ela não se destina apenas a uma certa classe de Hindus, mas é uma dádiva para os homens em geral, sejam eles nascidos em qualquer país, criados em qualquer sociedade e produzidos em qualquer cultura. Em suma, o Vaishnavismo é o Amor Absoluto unindo todos os homens ao infinito, não-condicionado e absoluto Deus. Que a paz reine suprema para sempre em todo universo no contínuo desenvolvimento da sua pureza, através do esforço de futuros heróis que serão abençoados de acordo com a promessa do Bhagavat, com poderes do Pai Todo-Poderoso, O Criador, Preservador e Aniquilador de todas as coisas no céu e na terra.


Srimad Bhagavat Jayatah!!!
 







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