A história de Jabala e Satyakama




Javala era solteira. Ela tinha um jovem filho chamado Satyakama. Um dia Satyakama aproximou-se dela e disse:
 “Mãe, eu quero fazer um voto sagrado de celibato e morar na escola do meu Guru. Mas para isto eu preciso saber a minha linhagem familiar.”
 “Oh meu filho!” Respondeu Javala. “Eu não sei a qual linhagem você pertence”. Na minha juventude eu era uma concubina. Eu tive você após servir vários homens diferentes. Então não sei a qual linhagem você pertence. Quando o Acharya perguntar sobre sua identidade você se introduz dizendo que é o Satyakama da Javala.

Satyakama aproximou-se do sábio Hari-drumata Gautama e expressou o desejo de viver na sua escola. Gautama Rsi perguntou ao pequeno garoto. “Ó alma gentil, á qual linhagem você pertence?”. Satyakama respondeu: “Meu mestre, isto eu não sei. Quando perguntei minha mãe a qual linhagem pertencia, ele m disse que na sua juventude ela era uma concubina e que havia servido a varias pessoas antes de me ter como filho. Ela se chama Javala e eu sou Satyakama”. Gautama Rsi ficou imensamente satisfeito de ver a honestidade da criança e a devoção dela para com a verdade. Ele então disse: “Alguém que não é de uma linhagem brahmínica nunca falaria com tal simplicidade e veracidade. Prepare-se para a cerimônia de fogo. Vou lhe conceder o sagrado cordão de brahmana. Você nunca deve faltar com a verdade”.

Então Gautama Rsi o concedeu o cordão sagrado. Depois ele engajou o garoto em um serviço especial. O sábio tinha um rebanho de 400 vacas e instruiu Satyakama a levá-las para pastar e cuidar delas em todos os sentidos. Quando Satyakama estava saidno com as vacas ele prometeu á seu Guru. “Eu não retornarei até que o número de vacas no rebanho ultrapasse 1000 fortes vacas”.

Satyakama pastoreou as vacas por muitos anos, servindo-as com todo o seu coração. Gradualmente o número de vacas aproximou-se de 1000. Um dia o Deus do vento entrou em um boi do seu rebanho. O boi falou a Satyakama: “Ó Sua Gentileza nosso rebanho alcançou agora o número de 1000 vacas. Agora você pode voltar conosco ao ashram do Acharya”.

O boi continuou: “O leste, oeste, norte e sul em todas as direções preenchem o primeiro quarto da opulência da Verdade Absoluta (Brahma). Aquele que adora as quatro direções da Verdade Absoluta como Prakasvan, a fonte de toda resplandecência atinge os planetas de luz na próxima vida. Em breve o Deus do fogo irá descrever o segundo quarto da opulência da Verdade Absoluta”.

No dia seguinte, Satyakama tocou as vacas até a casa de seu Guru. Naquela noite como a escuridão ia chegando ele deixou as vacas descansando e então acendeu uma fogueira. Então naquela hora o Deus do fogo disse a ele através do fogo. Ele instruiu Satyakama sobre o segundo quarto da opulência da Verdade Absoluta. A opulência de ser ilimitado e então disse a ele que o Deus do Sol apareceria em breve na forma de um cisne para descrever o terceiro quarto da opulência do Absoluto.

Na manhã seguinte Satyakama agrupou todas as vacas e começou a sua jornada à casa de seu Guru. E NO MESMO LUGAR QUE ESTAVAM QUANDO ANOITECEU (NO DIA ANTERIOR) ELE DEIXOU AS VACAS DESCANSANDO E ENTÃO ASCENDEU UMA FOGUEIRA. Como foi dito pelo Deus do fogo, do lado leste o cisne apareceu e veio descansar ao seu lado.

O cisne começou a instruir Satyakama especialmente sobre o terceiro quarto da opulência do Todo Absoluto e disse que o Brahma é Jyotisman, a origem da luz divina. O cisne então lhe informou que o Deus do ar vital apareceria á ele na forma de um pássaro aquático para descrever a quarta parte da opulência do Absoluto.

Na manhã seguinte Satyakama continuou sua jornada e de novo quando a noite chegou, ele acendeu a fogueira e se virou para a direção leste. O Deus do ar vital então apareceu a ele na forma de um pássaro aquático e começou a descrever a quarta parte da opulência da Verdade Absoluta. Ele explicou que Parahma a Verdade Absoluta é Ayatanavan a fundação existencial de todas as coisas.

Instruído assim por aqueles quatro semi-deuses Satyakama então aprendeu a ciência da Verdade Absoluta. Finalmente ele chegou ao ashrama de seu Guru. No momento que o Rsi viu Satyakama ele pode compreender que o serviço performado foi sincero e genuíno. Satyakama havia dado os frutos do conhecimento divino. Ele havia se tornado um Brahma-Vit um conhecedor da Verdade Absoluta. Gautama Rsi então disse a Satyakama: “Ó homem gentil! Você está brilhando como alguém que possui o conhecimento da Verdade Absoluta. Quem te instruiu?”.

Satyakama respondeu: “As entidades que me deram este conhecimento não eram seres humanos. Mesmo assim, ó mestre, por favor, me instrua pessoalmente de novo e só então poderei atingir a perfeição e minha vida será exitosa. Eu fui afortunado o suficiente quando ouvi que o conhecimento recebido pelo Acharya é supremamente benéfico por que isto concede a perfeição ao receptor. Então, eu lhe peco, por favor instrua-me”.

Vendo que Satyakama estava orando com profunda sinceridade para receber as exclusivas instruções do Acharya, Gautama Rsi impartiu todo o conhecimento a Satyakama pela segunda vez.

Após um tempo Satyakama também se tornou um Acharya. Seus estudantes como Upaksala e outros adotaram o celibato restrito por doze anos e residiram com Satyakama enquanto ele os instruía na ciência da Verdade Absoluta. Após a graduação deles, Satyakama pediu a todos os estudantes que retornassem a suas casas, todos exceto Upakosala. Upaksala era muito querido por ele e era seu servo íntimo por isso Satyakama desejou revelar a ele todos os segredos exotéricos do conhecimento divino. Para isto Satyakama testou Upaksala repetidamente. Por ultimo ele impartiu atma-vidya, conhecimento divino da alma a Upakosala e instruiu o povo em geral com esta breve explicação:



“Assim como a pétala de lótus nunca permite que uma gota d’água submerge nela, mas ao invés disso deixa que ela caia, aquele que conhece a Verdade Absoluta nunca se implica em ações pecaminosas. O processo da adoração pregada pelos Deuses será capaz de obter a Verdade Absoluta. Aquele que segues este caminho jamais retornará a existência mundana.”



Desta narração tiramos quatro lições:



Primeiro: Os Strutis dizem: “Simplicidade e honestidade são as qualidades que definem um brahmana” Mesmo sabendo que a sociedade mundana condena uma pessoa provinda de legitima progênie como sendo extremamente desafortunada e vitima de criticas, Satyakama nem mesmo hesitou em confessar sua identidade ao Acharya. Seu comportamento revela que as qualidades brahminicas de veracidade e simplicidade foram naturais para ele. Gautama Rsi reconheceu isto e lhe concedeu o cordão sagrado e assim o abençoou com a elegibilidade de servir Sri Guru e estudar os Vedas. Aqueles que possuem qualidades Brhaminicas naturalmente são honrados e adorados por todos, não importa a qual linhagem familiar pertença.



Quando Srimam Mahaprabhu a Personalidade de Deus que descendeu para purificar as almas caídas desta degradada era de Kali, liberou Amogha Das em Ksetra Dhama (J. Puri), ele especificou como reconhecer um brahmana através das seguintes citações:







Sahaje nirmala ei brahmana hrdaya

Krsnera vasite ai yoga-sthana haya



Matsarya-candala kene ihan vasaile

Parama pavitra sthana apavitra kaile



(C.C.M-L.– 15.275.276)



“O coração de um brahmana, sendo naturalmente simples e puro é um lugar apropriado para a residência de Sri Krishna. Porque você deixa o selvagem comedor de cachorro da inveja crescer internamente em um lugar tão puro e o contamina desta maneira?”



A Segunda lição: As virtudes é que define o homem e não seu nascimento.

As escrituras estabelecem a superioridade de alguém que é reconhecido como sendo brahmana de acordo com as suas virtudes. Não há outra maneira de satisfazer Bhagavan a não ser viver de acordo com a conduta prescrita pelo puro e original sistema social de casta e asrama (visuddha-varnasrama). O Bhagavad Gita revela que todos aqueles que não aceitam o sistema de casta (varna) e ashram, o qual foi criado por Bhagavan, estão na categoria de pessoas demoníacas. Se uma entidade viva permanece inímica a Sri Bhagavan, então não importa a grande posição que ela ocupe, desde a perspectiva mundana não importada a grandeza das suas qualificações materiais, suas aquisições nunca vão ajuda-lo a alcançar o mais elevado bem-estar.



Tranquilidade, austeridade, limpeza, contentamento, perdão, simplicidade, conhecimento, compaixão, devoção a Deus e veracidade são todas qualidades pertencentes aos brahmanas. As atividades prescritas para cada um dos quatro varnas existem em acordância com as qualidades inatas dos quatro tipos de pessoas. E de acordo com estas qualidades e suas respectivas atividades prescritas, os quatro ashrams (costumes sociais dos diferentes estágios da vida) foram criados. Este sistema de quatro divisões de varna e asram originaram do próprio Senhor Supremo. Assim sendo, se alguém não o aceita desobedece a ordem de Sri Bhagavan e cai vítima de degradativas influencias. Em Satya Yuga, havia apenas um varna e esta era conhecio como hamsa (Cisne). Entao em Tetra Yuga juntamente com os três Vedas, os quatro ashrams foram criados. Especificamente elevados métdos cientificos que levaram em consideração os quatro “tipos” de pessoas foram usados para identificar o varna das pessoas. Isto nunca foi decidido de acordo com a linhagem familiar (parentesco).





Mas, apenas se ele é auto-realizado, desprovido do apego e inveja, livre do conceito de falso ego e dotado de qualidades de tranquilidade interior e autocontrole, ele é de fato um brahmana. Portanto foi visto que uma pessoa nascida de família caída pode entrar no mais alto varna.

As escrituras fornecem abundantes exemplos de pessoas que atingiram o status de brahmana por causa de suas qualidades e disposição. Se alguém tem as qualidades de um sudra, mesmo tendo pais brahmanas, ou qualidades de um brahmana mesmo tendo pais sudras, então sua casta deve ser dada de acordo com suas qualidades independentemente de seu parentesco.

No Srimad-Bhagavatam (7.11.35) o verso que começa com “yasya yatlaksanam proktam” estabelece a superioridade de apurar a irmandade brahminica através da consideração da disposição inata, ou através de considerações espirituais absolutas. Determinando o varna de uma pessoa de acordo com seu grau de tranquilidade interior, autocontrole e assim por diante, esta é a sutil metodologia cientifica prescrita pelas escrituras. Se qualidades como tranquilidade interior e auto-controle são evidentes em alguém as escrituras dizem que mesmo que ele não tenha nascido de pais brahmanas seu varna deve ser determinado por estas qualidades manifestadas, enquanto seu parentesco ordinário deve ser esquecido.

Está escrito no Mahabharata, “Sri Parvati-devi estava ponderando em como os outros três varnas, tail como kshatriyas (guerreiros), poderiam atingir as qualidades de um brahmana através de suas respectivas naturezas. Ela perguntou sobre isto ao jagad-guru Sri Sambu (Shiva), o maior dos Vaishnavas, que a instruiu no método de determinar o varna de uma pessoa de acordo com sua natureza e características.”.

No contesto da historia do Dharma-vyadha, o Mahabharata também confirma que mesmo que uma pessoa que tenha nascido na mais baixa casta é para ser considerada brahmana se esta pessoa é resoluta em uma conduta adequada, honesta e que cumpre deveres religiosos, ter um caráter virtuoso por si só faz com que a pessoa seja um brahmana. As escrituras dizem que aqueles que tem o segundo nascimento brahminico (dvija), mas são violentos e gananciosos, que ganham a vida por qualquer meio, até mesmo inescrupulosos, que persistem em comer alimentos impuros, impróprios para um verdadeiro brahmana, que são sujos, que abandonaram seus dharma Vedico são chamados de sudras. “matsya-mamse sada lubdha vipro nisada ucyate - os assim chamados brahmanas que são gananciosos e comem peixe e carne, são chamados nisada-brahmanas (selvagens disfarçados de brahmanas)”.

As escrituras condenam aqueles que não sabem nada sobre a Verdade Absoluta, mas que vaidosamente ostentam os tópicos que receberam em cerimônias, designando seu status brahminico por chama-los de pasu-vipras, animais vestidos de brahmanas. Um dito brahmana que cozinha para os sudras, vende os santos nomes por lucro e vende seu conhecimento por ganho monetário é comparado a uma serpente venenosa. Em outras palavras, suas performances em rituais e cerimônias sacrificais não trás benefícios para os familiares que o contratam. Embora ele possa performar vários rituais sagrados que destina a beneficiar a próxima vida de alguém, estes rituais nunca alcançam o resultado esperados. Esta é a versão das escrituras.

Pessoas de todos os quatro varnas – os sacerdotes, os guerreiros, os homens de negocio e os artesãos – perpetuamente debatem sobre quem entre eles é superior e quem é inferior. Sri Tulasi dasa, um poeta devoto, diz:



Brahmana ksatriya, vaisya, sudras aba koi karata vicara.

tulasi kahe – hari na bhaje ta caro camar

hari bhaje ta caro jata milakara eka varana ho jaya

asta dhatu-me parasa lagaoye eka mul-se bikaya



O significado deste verso é que se estas quatro classes de homem não performam serviço amoroso a Sri Hari, então eles são apenas couristas (pessoas que trabalham com couro), todos eles estão de olho nas variedades de pele. Oito tipos de metais podem ser usados para fazer uma murti, e quando uma murti é vendida, seu valor depende de quanto de cada tipo de metal compõe a murti. Mas assim que a murti é transformada em uma pedra de toque, herda um único e alto valor. Da mesma maneira quando pessoas de diferentes varnas se envolvem em serviço amoroso a Sri Hari eles todos pertencem a uma mesma casta, todos se tornam brahmanas.

A instrução de excelência de todas as escrituras em relação a este assunto é que apenas aqueles que de fato tem a natureza de um brahmana está qualificado para ser chamado como um. Em outras palavras, se uma pessoa não tem nenhuma das qualidades de brahmana, ele é visto como um sudra.





A terceira lição – Serviço ideal a Sri Guru



Devotos aspirantes que anseiam para se envolver em bhajana sincero devem sempre se esforçar para seguir o ideal de servir a Sri Guru assim como exemplificado por Satyakama. Se uma pessoa tem a preocupação exclusiva em seu prazer pessoal e lazer, ele não pode imergir sua mente em total serviço a seu guru, do fundo de seu ser.

Quando alguém desenvolve a concepção de que “ Eu pertenço a Gurudeva, e tudo é um instrumento a ser usado a seu serviço”, então ele experimenta um sentimento natural de afinidade e posse por qualquer coisa conectada a seu guru. Quando esta introspecção despertou no coração de Satyakama, ele exibiu tenacidade em dedicar a si mesmo exclusivamente em propagar a grandeza de seu gurudeva.

Muitos individuos deixam suas casas, clamando que eles mudaram para a matha para performar hari-bhajana. Mas na realidade eles continuam despreocuapdos com serviço e apenas fazem show cantando harimana – no qual em seu estado de conciencia está crivado com desejos sem valor (anarthas) – e apenas entram na preguiça. Satyakama não seguiu este caminho, mas com determinação resoluta ele nutriu uma manada de 400 vacas desnutridas com tanto cuidado que estas cresceram fortes, e só então ele retornou a casa de seu guru.

Por servir seu guru seriamente e sem duplicidade, ele se tornou pronto para realizar a verdade sobre o Senhor Supremo (bhagavat-tattva). “Hari-bhakti ache yanra sarva-deva bandhu tanra- aquele que tem devoção por Sri Hari tem todos os deuses como seu amigo.” Portanto de acordo com as intenções do acarya Gautama Rsi, os semi deuses instruiram Satyakama na ciencia do absoluto.

Considerar os esforços de uma pessoa e capacidades desta o suficiente para compreender tudo, ou considerar estar acima de aceitar qualquer instrução adicional de alguém, são mentalidades que quase inevitavelmente levam à queda da entidade viva envolvida na prática espiritual. Na força da graça de seu guru, Satyakama realizou que quando o conhecimento sobre um mantra é pessoalmente dita ao discipulo pelo guru, rapidamente produz o fruto da perfeição. Consequentemente ele ouviu a ciencia da Verdade Absoluta por uma segunda vez diretamente de seu sri guru. Receber instruções e a guia direta de um guru é o metodo aconselhado pelas escrituras. Na ausencia de um guru a pessoa pode recorrer a associação com as escrituras como uma forma de associação santa.





A quarta lição – O guru e o discipulo



Se sri gurudeva, que concede conheciemento divino, está satisfeito como discipulo então este atinge a perfeição, junto com conheciemento das verdades dos Vedas e Vedanta. Buscar a mais intima ambicao de gurudeva é a única forma de satisfaze-lo. Para um devoto sincero que esta sempre rendido ao guru, nada neste mundo está fora de alcance. Apenas um simples e sério servo de sri guru está apto a beneficiar as pessoas do mundo por suas condutas e ensinamentos. Ele sozinho se torna um paramahamsa acarya (preceptor no estagio final da perfeição espiritual) e jura propagar a menssagem e o desejo mais íntimo de sri gurudeva.

As pessoas em geral não decidem a eligibilidade de alguém para entrar na ordem renunciada de vida, nem decidem a eligibilidade de alguém para entrar no estágio de paramahamsa no qual transcende a todas as castas e papéis. A eligibilidade de alguém depende somente do progresso espiritual de cada um e isto é um fato permanete. A relação ente guru e discipulo é eterna e a sucessão de gurus fidedignos e seus discipulos e o fluxo do divino conhecimento também é eterno. De fato não tem divisão entre o relacionamento de um guru e seu discipulo e da inteira sucessão. Mas eles são inseparaveis como o corpo e os membros.



Extraído da revista "Rays of Harmonist' criada por Srila B.V.Narayan Goswami Maharaj. Artigo escrito por Srila B.V.Vaman Goswami Maharaj - Primeira vez em português.

Agradecimento á Mani Kundalika Dasi (K.G.M B.H) pela tradução.





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